quarta-feira, 6 de junho de 2012

PETÚNIA

Quanto mais Odin me empurra mais me entranho no sol do sol, nos dias anfíbios, anárquicos, os desalinhos onde me vou exprimir.
A chuva devora-me as sombras absortas do céu. O ar, corvo, em mim vem pousar. A carne amar se abre nas raias do conflito frontispício.
Sentada á tua porta, na nitidez da estrela me consumo, num buraco interno, bastardo a que chamo sangue e que vive longínquo nas Fenicías.
Parada, vejo-te sorrir na leitura impossível no mundo que existia e agora é teu. Diante de mim a possível frase, a eternidade dum rosto onde a tua imagem se alinha.
Soprada, materna, movida nos meandros, sussurrando-me madrepérolas, valquirias e fundo claros, a luzir secretamente. Ténue. Nascerás comigo.

«PETÚNIAS as escarpas geométricas das insígnias nos orvalhos. Cortando ao meio a noite hiemal. Extasiantes centelhas, sopram, imaturas, a alusão num tempo interpretado…
Desaparecendo. Aparecendo. Nos silêncios inexplicáveis das nuvens quando sobem ilícitas nas madrugadas impressas nu elegíaco, correndo contra a noite desembarcadora de fábulas e narcóticas ranhuras, gatilhos e outros furos semiabertos…
E quanto mais Odin me empurra mais me entranho no despedaçar que sou. Nos dedos abertos que circulam como ilhas despenhadas em destroços compêndios, na implosão limite, no corpo sonâmbulo que compõe as sombras e o teu rosto que me gerou lá onde não existem dilúvios mas tão somente alfabetos…»

Luisa Demétrio Raposo