sábado, 27 de dezembro de 2014

Ao fundo da calçada a rua estreita-se e dilata. O olhar cadafalso o ritmo admite. A foz silvada preenche as calças. A braguilha mão-dentro e o largo a erecção grossa da prosa masturbam violentamente. Entre a pausa o músculo o pénis interdito alastra. O sistema desarruma eriçando a curva e do inferno entorna-se a água de entre marginais uivos dos pentelhos em erecção que veneram e movem-se a fim de gladiar. Depois, a derrocada, a morte finita, e basta.
Indigente o animal que sai nu no olho incentivado pelo escuro a ofegar abundancia na palavra dita em voz baixa.



Luísa Demétrio Raposo
In AMMAIA

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

a ILHA

“A elipse prenuncia o outro lado, o sol, a beleza em braços abertos, entre o esperar sombra a aldeia o fisco, os pólenes pinta de entres a cal que em Junho regressa para a alamar as paredes. O movimento enconca-se sobre o espaço maternal, o regresso ao berço que embarca o quarto ao dia em que o meu idioma desapareceu.
A casa.
 Aqui a saudade é a ruína de um hemisfério, a vertigem catártica, um ritual anterior prisioneiro ao meu corpo, no agora. Dorindo a viagem, acabo de desconstruir o lugar de onde me deixei.
Acendo o cigarro rizomaticamente.
A tarde continua a ser a fenda entre a reconquista das origens. Os meus olhos. Volto a mim, no cheiro silvo da noite. O grito nórico na terra onde prisioneira embate a papoila, essa essência vermelha onde as minhas palavras se dinamitam. Eu, hei-de relembrar dos campos nos horários mais abatidos, o regresso ao trabalho-cidade.
Ao fundo da rua, a euforia de umas mãos enrugadas que se estendem para construir embates e destruir o abismo do tempo, esse lugar espeço onde plenitude é uma espécie de linfa interminável. Refugio-me no fluxo encantatório do negro alcatrão que recorta e reconhece a entradas de todas as casas, devassando-me de entre uma dramática ausência.
O grito varzino do ar puro por onde os gatos anaçam. A essência alça o caminhar, e o rosto dói no rastro da boca que ao mesmo tempo reordena a alegria, o astro, o coração que duplica a voz dos outros, dos que estão além da contradança da pele e que minusculamente me fazem companhia saudando-me. É tarde, estou cansada, as alegrias apesar de abertas continuam em silêncio. Os cães passam por mim e sem julgamento, sentem o meu alvoroço, o lugar estrangeiro que reconhecem pela brisa que os destelha por instantes.
Acaba-se o tabaco, o vício corrói e devolve-me a imagem em que eu fumava dentro da adolescência superpovoada de fascínios, campos e de noites portadoras dos amplexos gracejos, onde eu era um pequeno pássaro furtivo e voava incessantemente pela planície esplendorosa onde guardo ainda hoje as minhas mais secretas inconfidências.
 Hoje sou a águia nas tonalidades de todo um entardecer na estalada dos muros que murmuram entre áulicos dias.
 Os astros, áspides, as raízes todas e as estrelas o útero onde planam e reatam as encruzilhadas narrativas, o céu ortográfico que cai do papel para submergir nas ruas desertas.
O vento soa sobre os tragos do vinho que inevitavelmente sove os arreios no copo.
 Gera-se um instante soberano, o regresso da memória aonde destinto as parábolas e as falésias ilesas do Alentejo.”


 Luísa Demétrio Raposo
* pequeno excerto do meu primeiro romance  " ILHA"

foto  Maxim Vakhovskiy

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

A boca fermenta e deflagra vícios, curvilínea arde em milhões de instrumentos e mistura frases desembestadas entre as forcas da carne em apoteose.
Oral o coito a tempestade que o cio indecoroso semeia na erotização e eu a meio no risco violento do sangue em bosque a possuir mundo, ao transbordar o dar à crosta e pertencer por inteiro á viga garganta abaixo, à vulva onde nada principio entre os improvisos do sémen que sai e só e morto.
Luísa Demétrio Raposo


* in AMMAIA

Silo




 Infernal aparição odorífera a palavra que chega através do céu em liquefacção.
Duas bocas um triangulo pélvico manipula poemas por entre a rua mais deliquescente o lado indecifrável a carne aquando desordenada inunda infindavelmente a atmosfera onde o negro desértico molha da raiz à flor da gruta na velocidade curva do êxtase.

Luísa Demétrio Raposo

* in AMMAIA

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Crucifige


É a irrupção que dismetria a tribuna das batinas em iminência, lavrando interditos os dialectos rente ao exausto levantado que incha revolucionário sobre a risca o consentir execrado e que afunda-se no decurso violento em um regato que o pendura.
O urinar
Ímpio no sulco traiu mutilando o amplo sifilítico que anódina busca-o aumentando a sua pária em carne. O desalinho muscula a vermelho range engate e expande-se à estridência do sangue que enforca o gemer e ardina poça a despenha-se entre as pernas sob o fluido subterrâneo equivalente alquebrado sémen.

Luísa Demétrio Raposo

* do livro AMMAIA



* foto Frantisek Drtikol                                    

                       

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Entalhe rê


 Indeterminável labirinto e sangue pulsional fundem o itinerário cíclico, a fusão.
Apavorantes artérias as interrogações que o sal multiplica na simultânea indizível à meteorização do de leite desertam. À cratera mergulham intangíveis raízes à profundidade de um enigma. Hegemonia pixa alavanca ilha e coarctado espigão a nascente de babas que travessa a voz e todo o refluxo extrai.
O eclipse brecha mina o inominável interior à noite em debrum. Sonâmbulo cio o alimenta tanto como soe nome e todas as heracleias que florescem na abrevia dos matos. A flórula e todo um nicto ama.

Luísa Demétrio Raposo
* do livro Ammaia



* foto  Hans Bellmer

                                                    

                       

Sempiterno


  Anais em carvão, apara o incesto geográfico, destruir atmosfera. Da amofinação do corpo só vejo ravinas, o incensário. O escalpe da tinta gira no enxofre. A órbita grávida de universos, onda que destrói e me corta aos pedaços nas frases que empurram os eixos e no orifício escrevem cadafalsos impalpáveis entre os.
Na cabeça rajada a cima o sexo onde incorruptiveis as ferramentas salivam e há uma marinhagem na parte de trás.
A lavoura pubiana a ignição de todos
os centímetros que partem à boleia de excrementos entre os patamares, pontes que focam as fossas e estimulam a rouquidão dos lugares arquivos.
Sombra o hifene escreve a carlinga clareia-se em volta da folha de papel e eu bassula existo em cada frase na queima abrupta a vulnera idade de cada palavra que se inscreve e abriga aos poucos uma grande rotunda.



Luisa Demétrio Raposo

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014


Todos os meus sonhos são filhos de sombras num preto frontispício e quanto mais a combustão me empurra mais se escorcha o preto em todos os lascados caudais.

O reflexo de cor transmuda de uma engenharia que o cérebro acrisola, a sedimentação é tudo o que se alcança.    

Luísa Demétrio Raposo
Ao fundo do eclodir existe a geografia encostada à página inteira, na profundidade da escrita em que principia a violação frenética da circularidade descontínua que sou, a desvinculação sexual do fogo volátil, uma marinhagem invisível onde o cio se desmorona e onde as pulsações fervem e ceifam em cada som a silaba. Aberta num cais.


Luisa Demétrio Raposo