quarta-feira, 12 de outubro de 2016

AMALA AMAIA


                                                                


                                                             AMALA AMAIA
                                                    [puesía pronunciada por um pénis]

Anda-se, anda-se, anda-se e isso faz com que a carne aumente, inche e rebente. E eu e os pensamentos somos tantos e tão grandes que começam a rasgar-me a carne. É isso, não tenho muito mais a dizer. As minhas recordações, inúmeras e tão distantes das páginas que não escrevi e precisavam ver o quanto elas gritam entre o sexo.    Quero ser infinitamente um astro. O sol. Quero esconde-lo primeiro na boca depois entre os seios alcatroando-o até ao ultimo empurrão e penso. Voltar a esconde-lo a meio lodo, entre o que geme nas coxas, fornicar em desespero, fornicar com força e sem ponta de vergonha, fornicar até ao ultimo empurrão em que o esperma explode e pensar, raia estrangulando por continuo, o slip, o corpo após corpo a oferecer guarida à seiva franca, nadando-lhe ao ouvido, na dupla que os dedos  anseiam. O sangue irrequieto e contínuo, imparável por detrás da porta. A rua.                             Pulsar. 
  A carne entre a tempestade em relâmpagos. Colados à testa, uma metade contra a outra. A mão demorada por todo o lado, e entre as cordas vocais a palavra é divina e a disponibilidade sexual é descobrir jóias, virgulas e o ponto final, continuar a esboroar. O peso atormentado. Grave habitual. O tudo em tudo em quantidades e assimetrias onde é mais acentuada a escuridão e em todas as nádegas emanam paragens violentas, subtraindo ao meu ser, tal como sugere a ardência e a fome o exige, e eu só me alimento do que inflama e arde no inferno. Ah, o inferno, ambos gostamos de gemer entre a carne encharcada onde a baba se propaga e escorre, alimento selvagem do amanhã onde tudo cresce, pouco ou nada comum. 
 A inocência está toda no sexo, o sol, a estrela caída que ilumina a realidade em cruéis deslaces, na grácil que a puesía simples descanta. O seio, acre e austero, lapela com vista ao pôr-do-sol. Nuvens a horizonte. 
O caralho, um trovão. O nome, não se diz. Entre as duas a boca dilui. As labaredas, o encarnado em apertadas margaridas.
    Lábios na chiclete. Dúzias de bocas furiosas, grunhidos, guinchos. O ruído que saí pelo nariz. Um naufrágio. A luz atira-me à janela. O sol a morar-lhe entre os pentelhos. A ideia anarquista de fugir para o meio do amarelo. A boca, dos lábios só, nome de raça. A poça por todo o lado agarra-se às mãos em massa.
   O  coração ocupa-me quase na totalidade a carne. O corpo paralelo ao prazer, grande, essência que ergue com precisão elevado em desespero o céu. 
   Eu, um verbo possante a satisfazer junto aos dedos e em poderosa gula. Com fome, a pé. A língua cuja mão, a garra, em massa agressiva. A monstruosidade da água, cenário obsceno. E eu nunca antes tinha visto tanta água a mergulhar-me o polegar. A vulva não é obsessivamente só água. É sobretudo o corpo de uma mulher em busca de existência. E eu sou um instrumento de destruição maciça, tamanho o sexo que lhe sai pela boca.
Ópio. Lábios e ópio. O bicho escreve. O pássaro é de ferro. Mata a sede e sacia a fome. A constante, sobre e sob sexo as mãos tornam todo o inevitável, carne e sangue, o desatino de milhares de milhões afluentes, o pensamento passa à metamorfose. O prepúcio grande e deserto que a palavra despe integralmente, a rendição total do que rebenta à boca do útero e interruptamente, existe, coexiste com a subsistência e todo o ar dos pulmões. Do outro lado, assombra preta que desrata implacável os intermináveis e pormenorizados actos, o respirar do tudo em tudo, quantidades e assimetrias. A fuga que a velocidade destrói. Amalgama, a terra é um septo obediente a par da inteiração, com naturalidade porque o excerto da carne é inteiro. A imensidão, gentileza perigosa, algramassa, cabeça e a testa. Ideia soberba, a mão cheia de imagens e por colinas, o sexo nu, a mossa que fermenta delicadamente, a brusquidão parcelar de copula. 
Lamber nos mamilos e a parte de trás, orifício fronteiro, descarregar fúria, sacudi-la com força, dando caça a tudo o que aparecesse, o recto.

A boca, intimei-a: aumenta, e a mente alarga a corrente, a coisa senis e por mimese bate e  rincha, e a coronal desembesta o reverso atormentado. E vinha, como se fosse só nela. Em empa e em duplo perfil, adulta, a foda, atenta às fúrias porque desde que os ossos das mãos perderam a carne, dispenso luvas, vomito na cama. 

E no final? Nada se queima e tudo arde, a garganta cerca fazendo vénia, e era gorda a sepultura, o uivo, a era dos húmidos aromas que sempre é excluída à violência da autopsia.
   
   O mundo deveria ser a eterna copula, 
resolveríamos todas as distancias e a vivência entre o que se vive no sangue eriçado, se decidíssemos passar somente a foder, em desespero do céu, da boca, fora e dentro, por todo o lado o dia inteiro, e dizer não a um esgoto que jamais será saciado.
   
   O corpo a subir um outro corpo a partir dos pés.  O sexo, a martelada e só um rápido arranca violentas confrontações que contemplam o profundo, e que, me são instintivas por natureza. A normalidade é uma masmorra, sei-o agora. É necessário esquecer o rosário, a aparência, porque o pénis é um mamífero, alimenta-se  duro no escuro, de escrito grosso contra o útero, oculta e diante da boca, beijam-ma. E não é folclore, é luta, é resistência.
  
  Um homem urina em pé contra a parede. Urina contra e de encontra as latrinas provocando um derramamento, a transmissão de tinta e outros pigmentos aonde pertence, e está escondida a grande dimensão em jaula.    As calças de um homem entre a multidão são um rapto, e vai-se lá saber, a coisa está viva. Hirta. E eis por detrás o animal. A captura. Agora, imagina-o, a desempenhar o papel de Deus sobre
o instinto. A lamber na vulva gotículas viscosas feitas à mão. A nadar em novidade e a coberto pelas ondas que marinham a lama que do ventre escorre. A fornicar de entre a tinta implacável que desrata interminável o pássaro em acto. A fornicar entre as axilas o ópio. Alma em fogo, o sangue de poeta, verdejantes campos verdes em chamas. A tormenta e  milhares de milhões de criaturas que me são invisíveis, a biologia em zona calva praguejando em albugínea.                                        
  Um pénis deve cravar-se sempre onde há uma agonia, e enterra-lo e deixa-lo lá a demolir sem ininterrupção, a espancar a romper trilho entre os astros, já que no extremo acha-se o universo e no outro a terra, deve morrer dentro e rezar fora.

Luísa Demétrio Raposo
Fortios, 27 de Setembro 2016.

3 comentários:

R disse...

Portentoso!

PEQUENOS DELITOS RENOVADOS disse...

Eu diria soberbo....
Só mesmo essa poeta talentosa para fazer perder a voz num monólogo caralhal!!!!
Tive que copiar o texto pois a leitura (sei se proposital para um diálogo mudo!) ficou prejudicada pela cor do texto
O pênis é o soberano do corpo feminino.. o que entra, mexe, remexe, define cantos e espaços e jorra o gozo profundo numa buceta reconditamente pulsante....
Saudades de talentosa moça!!!

Humberto Baião disse...



vou acompanhar para ver até onde a demência te levará :D